quarta-feira, 22 de julho de 2009

Amor-próprio


Era só mais uma conversa, um diálogo entre tantos outros que conjugava frases com silêncios, palavras fragmentadas, olhares e expressões faciais. Gostava de ficar ali a adivinhar-lhe pensamentos, e no meio do assunto eis que lhe surge a frase "não sei se quero chegar a velho".
A velhice, um assunto que, na condição de jovem, não faz parte dos meus mais sistemáticos pensamentos (ou, pelo menos, não o deveria fazer). Contudo, aquela frase dita à luz da reflexão, persistiu na minha mente como um fantasma.
Gostava de não sentir pena, porque a pena é quase tão dura como a indiferença, mas sinto-a inevitavelmente quando num ímpeto vejo um idoso sentado num banco de jardim, acompanhado da solidão, quase fundido nela. O seu olhar baila entre o vazio de quem sabe tudo e simultaneamente não conhece nada. Os ossos são penosamente castigados pelo reumatismo, e não sabem se hão-de temer a morte e o seu mistério, ou desejá-la ardentemente como derradeira cura para o mais ínfimo mal ou debilidade.
Se pudesse curá-los do mal de viver perto da meta da vida, não lhes daria um livro intitulado estupidamente "Como viver bem aos 40 ou aos 80". A única cura para o medo do fim é não ter medo, é viver intensamente cada dia e cada quimera. Porque quando já nada resta, temos e teremos sempre o nosso amor-próprio.

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