sábado, 11 de setembro de 2010

Let it burn



Quando te conheci realmente, a ti e ao teu amor completo e absoluto por mim, nunca julguei chegar alguma vez o tão temido dia que nunca queremos ver chegar quando nos atrelamos e entregamos a alguém, entrando de malas e bagagens numa relação que acreditamos piamente ser condutora de um caminho feliz e interminável. Quando te conheci entreguei-te o meu coração partido, e fui-lhe colocando remendos ao mesmo tempo que o curavas com poções e fórmulas que nunca vou saber descodificar, mas que te vou para sempre agradecer. Talvez seja por isso que, no dia em que te entreguei a minha totalidade, no dia em que te deixei entrar devagarinho no meu coração para que vivesses nele como um lar reconfortante e incrivelmente acolhedor, pensei que tinha encontrado, e que a exaustão de prever um fim ou a preparação para o mal que pudesse chegar não seriam mais preocupações minhas. Talvez seja por isso que quando nos encontramos um outro, na plenitude, acreditei que nunca mais ia ter de viver o processo de desgosto amoroso com direito a coração partido e fios invisíveis presos à cara. Mas enganei-me.

Apesar de tudo, é curioso, porque agora não custa tanto, quiçá por ter criado em mim uma capa protectora e incrivelmente defensiva que me preparou e impediu de sofrer de forma tão exaustiva como da última vez que o meu coração se partiu, precisamente da vez em que tu o curaste. Agora, depois de todo esse demorado processo retrospectivo, devo admitir que, feliz ou infelizmente, agora não me custa tanto aceitar e entender, chorar mas perceber, sorrir e reagir. Parece-me agora mais fácil, como se tivesse amadurecido uma dezena de anos no miocárdio, porque este já não bate tão descompassadamente quando as recordações emanam. O que, no seu lado positivo, tem algo de muito produtivo - já não sinto necessidade de te acusar, de sentir a raiva fervilhar. Agora reina apenas a calmaria, a compreensão dos erros que cometi, o assumir da minha quota parte da culpa.

Ainda assim, existe uma pequena parte, a mais dolorosa talvez, que permaneceu aqui, e que não se irá embora assim tão cedo - a saudade. A saudade veio para marcar a sua presença, com o tumulto das recordações e a doçura aniquiladora das memórias. A saudade é o que ainda me permite ser um pouco irracional, querer viver o desgosto, querer sentir-te mesmo sem nunca mais te poder sentir, querer ver-te por entre a névoa, querer ter-te, sem ainda assim desejar que voltes. É a saudade que me faz sentir muito e pensar menos do que desejava. É o teu corpo firme mas frágil, o teu sorriso tímido, os teus olhos enormes e brilhantes, tão absurda e maravilhosamente expressivos, a tua voz ao meu ouvido, a tua respiração leve, as tuas mãos, o teu abraço forte. A saudade leva-me numa viagem angustiante e interminável na qual te encontras num labirinto infinito, na qual me perco por entre sonhos que, agora sei, nunca se irão realizar, entre esperanças que agora se encontram espezinhadas.

Por isso, vou alojar-me durante muito tempo, eu sei, com a saudade, que vai e vem no meu peito para se fazer melhor sentir, mas a minha racionalidade, a frieza e a capa com a qual embrulhei o meu coração exigem-me que seja forte e vanguardista, que caminhe em frente e diga adeus de forma rápida e menos dolorosa. É talvez por isso que me despeço agora de ti, sem grandes demoras ou lamentos. Assim, como quando se arranca um penso com força e rapidez, pode ser que doa menos. Pode ser...


Even though this might ruin you

Let it burn

You gotta let it burn.