sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Paixões de Outono



Apaixonei-me pela chuva, e sinto-me cada vez mais embevedecida em cada pequena gota que se deixa verter pelo vidro fosco. Não sei especificar ou clarificar de forma exacta este meu fascínio pela magia de pequenas gotas de água que descem dos céus, assim como uma pequena dádiva, mas sinto-me envolta numa magia de vida e movimento incomparável. Talvez pela frieza ténue mas vincada das pequenas partículas, talvez pelo cheiro inconfundível e apelativo da terra molhada, ou ainda pelo tom cristalino que a chuva empresta ao cenário, ofuscando-nos a vista com um brilho muito subtil, que, contrariamente ao brilho irradiante do sol, é leve e imperceptível, mas valioso por essa sua raridade. Mas considero que, ainda e acima de tudo, me deixei encantar pelo facto de viver esta chuva apaixonada, de a sentir embranhar-se em mim por entre um abraço quente, de ouvir a sua melodia compassada e regular através do vidro do carro no banco do passageiro, de a sentir escorrer-me pelos lábios intrometendo-se levemente num beijo longo e apaixonado, de a sacudir dos cabelos molhados e embevidos pelas horas de amor à chuva. O amor traz-nos encantos, paixões estranhas. Hoje, por amar tanto, apaixonei-me pela chuva.