domingo, 12 de setembro de 2010

Amor à pátria

Estes dias o meu subconsciente dirigiu-me para a realidade dos sonhos, essa realidade irreal e metafísica, quase sempre doce e simultaneamente amarga. Tenho sonhado muito, com entes abstractos e entes materiais, com possibilidades utópicas e terras sem nome. Tenho sonhado muito, para me refugiar de uma realidade desencontrada e desconhecida.

Contudo, nenhuma terra sem nome que me aparece nos sonhos tem o sabor doce e puro da minha terra real. Do meu país, verde e fresco, das gentes humildes e hospitaleiras. Amo o meu país e a sua verdade, a realidade que não mente e que oferece as humildes possibilidades de uma vivência tranquila. Venero as suas cidades moderadamente agitadas, com o tráfego dos carros no fim de tarde, com o caminhar apressado dos trabalhadores que escolhem a deslocação apeada, e pelo caminhar vagaroso e tímido de estudantes que regressam a casa. Admiro as suas paisagens incrivelmente belas por serem tão simples, com montanhas saloias e monumentos carregados da história mais rica, bela e envolta em mistério – a história deste Portugal pequeno em dimensão e grandioso na sua evocação e aconchego.

Gosto de acordar por baixo deste céu coberto num clima ameno e pacato, que se adequa numa junção perfeita ao ambiente deste lugar. De caminhar na rua sob a melodia deste idioma irremediavelmente belo e romântico, envolto em poesias melódicas e cheias de ritmo, trespassado pelo sentimentalismo dos grandes poetas. Este idioma da saudade que me faz apaixonar todos os dias, que me leva a mergulhar na riqueza das suas palavras completas e com infinitos significados. É neste idioma que quero escrever eternamente, mesmo que a vida me encaminhe para destinos mais exóticos ou ricos, hei-de reservar sempre para o meu português a doçura das palavras e os textos apaixonados e misteriosos.

Sinto no meu coração o orgulho de pertencer ao país dono da língua da Saudade. O quanto não vale possuir esse vocábulo, essa palavra que tem a riqueza de um tesouro imenso, que transmite em si o que noutros idiomas seria necessário proclamar em longas e numerosas palavras. Gosto de dizer “saudade”, e de me sentir portuguesa. Gosto de sentir a saudade e de me sentir portuguesa. A saudade dos amantes, revertidos ao desgosto, a saudade de beijos lânguidos e intermináveis, de passeios de mão dada banhados pelo brilho etéreo da lua, de noites de amor e de corpos presos por fios de mel invisível. A saudade que o soldado na terra além-mar sente pela família que deixou revertida ao abandono, sob o signo do medo e da preocupação. A saudade da infância ágil e bela, povoada de sonhos e princesas.

Amo o meu país, a sua segurança, o seu ambiente de paz, a sua pobreza irremediável que faz das pessoas mais humanas e perceptíveis aos problemas. Amo o seu vermelho do sangue jorrado, amo o verde da esperança culminados na esfera armilar que simboliza o nosso eterno património. E cada vez que visito um outro lugar desconhecido, sob línguas redondas ou cantaroladas, deixo-me depois deliciar pela incomparável sentimento de regressar ao meu lar, sentimento tão exacerbado que lhe dou o nome pomposo de felicidade.

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